A transição de um sexo para o outro é frequentemente considerada como um ato libertador de expressão pessoal e de auto-consciência.
No entanto, a medicalização da transição de gênero pode ter consequências involuntárias que podem aumentar os papéis tradicionais de gênero e estereótipos. Este artigo vai considerar como a medicalização da transição de gênero pode perpetuar esses estereótipos.
Primeiro, vamos considerar as mudanças físicas relacionadas com a transição de gênero. A transição inclui terapias hormonais que podem causar alterações físicas, como o desenvolvimento dos seios em homens e perda de massa muscular em mulheres. Estas mudanças têm como objetivo ajustar o corpo de uma pessoa à identidade de gênero escolhida por ela, mas também podem fortalecer as normas tradicionais de gênero.
Por exemplo, se um homem transgênero tomar testosterona para desenvolver os seios, ele pode ser visto como menos masculino do que os homens cisgêneros que não se submetem a este tratamento. Da mesma forma, uma mulher transgênero que perde massa muscular com a terapia com estrogénios pode ser considerada fraca ou frágil em comparação com mulheres cisgêneras que não tomam este remédio.
Em segundo lugar, a medicalização da transição de gênero pode criar uma cultura em que a transição de gênero é tratada como um problema médico e não social. Isso pode levar a um foco nos marcadores biológicos do sexo, como os genitais, em vez de uma compreensão mais sutil da identidade de gênero. Isso também pode desvalorizar as identidades que desafiam o binário entre um homem e uma mulher. Ao focar na biologia, corremos o risco de excluir pessoas cuja identidade de gênero não se encaixa exatamente na dicotomia homem/mulher.
Em terceiro lugar, a medicalização da transição de gênero pode criar um tipo de corpo «perfeito» para cada sexo.
Por exemplo, algumas mulheres transgêneros podem aspirar a ter seios maiores do que os considerados normais para mulheres cisgêneras. Isso pode perpetuar a ideia de que existe apenas um tipo de corpo aceitável para as mulheres e fortalecer a ideia de que a feminilidade está ligada à aparência. Além disso, homens transgêneros podem sentir pressão para corresponder a certos níveis de musculação, o que pode perpetuar ideais tóxicos de masculinidade.
Finalmente, a medicalização da transição de gênero pode criar um sentimento de urgência em torno da transição. Muitas pessoas consideram a terapia hormonal e a intervenção cirúrgica como passos necessários neste processo, mas estes procedimentos nem sempre são necessários do ponto de vista médico. Isso pode criar uma pressão financeira e emocional sobre as pessoas e suas famílias.
Além disso, pode contribuir para a ideia de que a transição é algo que deve ser feito rapidamente, em vez de permitir que as pessoas não se apressem e tomem decisões razoáveis sobre seus cuidados de saúde.
Em geral, a medicalização da transição de gênero pode inadvertidamente reproduzir estereótipos, enfatizando mudanças físicas, corpos idealizados e necessidade médica. Embora a transição possa trazer liberdade e crescimento pessoal, é importante reconhecer como o sistema médico pode fortalecer normas nocivas de gênero.
A medicalização da transição de gênero pode inadvertidamente reproduzir os estereótipos que ela procura aliviar?
A medicalização da transição de gênero não leva necessariamente à reprodução de estereótipos. Embora haja algumas preocupações sobre a excessiva medicalização da transição de gênero e seus efeitos sobre a saúde física das pessoas, estudos mostram que as pessoas transgêneros que são tratadas por sua transição têm melhores resultados em relação à saúde mental, como a redução da depressão, ansiedade e pensamentos suicidas.